Os Anglicanos Nordestinos e as Festas de São João

Como brasileiros, e nordestinos, vivemos um período de intensos festejos do nosso folclore, que envolve o início do inverno, a safra de milho e uma valorização dos aspectos regionais de nossa cultura popular multisecular, o chamado “Ciclo Junino” (do mês de Junho), na cultura ibérica dedicado à comemoração do aniversário de João Batista, primo humano de Jesus, e figura das mais importantes nas Sagradas Escrituras. Há histórias e lendas, mas, a verdade, é que, à semelhança do Natal, a festa vem sendo cada vez mais secularizada. Os Anglicanos têm o aniversário de São João no seu calendário eclesiástico, como memória dos heróis da fé (como o Exército homenageia Caxias), e não há nada de supersticioso ou idolátrico nessa memória, dentro da doutrina credal da “comunhão dos santos” (relacionamento entre os vivos da “igreja militante” e aos mortos da “igreja triunfante”). Fui ordenado Diácono no dia dedicado a São João e fui ordenado Presbítero no dia dedicado aos Magos (“Dia de Reis” ou “Epifania”), o que me fez melhor relacionar a minha caminhada ministerial com minha cultural regional.

Somos todos seres culturais, e temos o privilégio dado por Deus de criarmos cultura: linguagem, comidas, valores, sistemas, usos, costumes, artes etc. Como somos moralmente ambíguos, carregando a marca da Criação e a marca da Queda, não há Cultura totalmente negativa, nem Cultura totalmente positiva. O nosso papel como cristãos, não é o isolamento ou a adesão acrítica a todas as manifestações culturais, mas a participação com discernimento, contribuindo para a cristianização da cultura, não para sua paganizacão ou para sua secularização.

É um grave pecado e preconceito a consideração de todo elemento afro de nossa cultura como sendo demoníaco, ou todo elemento ibérico como sendo idolátrico. Há muita ignorância antropológica e fanatismo em tudo isso. Por outro lado, protestantes têm absorvido o ascetismo medieval, não se dando ao direito à alegria e à festa, em uma negação mórbida do corpo e do prazer.

Tenho muito orgulho de ser nordestino. Gosto muito de pamonha e canjica. Desde menino curto o som do baião. Gosto de aquecer o frio da fogueira, como faziam os nossos antepassados, e, apesar de já um pouco enferrujado, curto, também, uma “quadrilha” tradicional (julgo as estilizadas, são bonitas mas descaracterizadas), e, como ensinei aos meus filhos, desde pequenos, que eles podiam participar de tudo isso, soltar os seus fogos, como parte da festa de aniversário do priminho de Jesus…

Bom arraiá anglicano para todos… Sejamos exemplos de alegre equilíbrio… e “Viva São João!”.

Paripueira (AL), 14 de Junho de 2005.

Dom Robinson Cavalcanti Bispo Diocesano (In Memorian)

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