Mude sua alimentação se quiser ser santo

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“Uma das maneiras de os Pais do Deserto sinalizarem seu abandono da civilização e sua imersão na universalidade do Reino através da relação unívoca com a Criação virgem estava na alimentação” (Montanari, “A Comida Como Cultura”).

A rejeição por carnes assadas, grãos cultivados e bebidas fermentadas era, para muitos deles, a rejeição dos produtos da cultura mundana. Esses cristãos evitavam ingerir qualquer coisa que não fosse dada exclusivamente por Deus, o legítimo semeador.

Ingerir produtos da cidade sinalizava um vínculo à cultura local e ao tempo presente. Já a ingestão daquilo que emerge da terra selvagem era uma espécie de retorno ao Gênesis, à criação e à ordem natural, que sempre se renova, desde os dias de Adão.

Assim, a alimentação dos Padres era uma desvinculação do tempo e do espaço profanos para eles, e o anúncio do pertencimento a uma comunidade eterna e atemporal: o Reino de Deus — isso explica porque muitos decidiam viver afastados no deserto.

Essa separação exprimia a rejeição das cidades crescentes em população e em depravação, com multidões cada vez mais entregues aos vícios mais baixos e aos prazeres da carne. Além disso, a negação pessoal dos prazeres da boa comida era um exercício de privação ascética, uma forma de mortificar a carne e fortalecer o espírito.

João Batista é a referência desse modo de vida, já que vivia em locais ermos, comia apenas o que a terra lhe fornecia e o que Deus lhe concedia: gafanhotos e mel silvestre. O próprio Cristo também esteve em ascese na Tentação do Deserto, quando jejuou por quarenta dias. E como narra o evangelista: “Vivia entre as feras, e os anjos o serviam.” (Mc 1: 13)

Isso nos leva a compreender que não há santidade sem uma mudança, por vezes radical, de hábitos alimentares. Que o Espírito Santo nos ajude a comer melhor, a nos abster (ou nos moderar) daquilo que alimenta nossa carne e enfraquece o nosso espírito.

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