O que você precisa saber sobre GAFCON
Em meu testemunho de conversão ao Anglicanismo, conto que a decisão de abraçar a fé inglesa não foi uma decisão tomada de uma hora para outra. Passaram-se três anos desde a primeira vez que pesquisei a respeito dessa tradição até o dia em que decidi tornar-me anglicano.
“Por que tanto tempo?”, você pode perguntar. Bem, pessoalmente, eu não queria entrar de cabeça em uma nova experiência religiosa sem conhecer todas as implicações que isso me exigiria. Eu venho de tradições completamente diferentes e precisava saber, entre outras coisas, se me adaptaria.
Outro motivo deve-se à má fama que o Anglicanismo passou a ter nos últimos anos. Basta uma rápida pesquisa no Google para se deparar com matérias que destacam a abertura de algumas denominações anglicanas a costumes contrários aos mandamentos bíblicos. Tais denominações têm aderido a coisas que os Apóstolos, os Pais da Igreja e os primeiros cristãos certamente condenariam, e isso me assustou de início.
Indo um pouco além, parte da Igreja Anglicana abraçou aquilo que Chesterton destacou como o “espírito dos tempos”. Não conseguiu resistir às investidas pós-modernas e foi corrompida pelo câncer do liberalismo — o que há anos vem causando cismas entre os anglicanos.
Graças a Deus, no entanto, uma parcela considerável da tradição ainda resiste — e isso se deve, em grande parte, ao trabalho da GAFCON. Ao conhecer a GAFCON, fui motivado a abraçar a fé tradicional anglicana. Percebi que poderia exercer minha religiosidade sem ter que apoiar ou conviver com graves distorções doutrinárias e litúrgicas.
O que é GAFCON?
A sigla resume Global Anglican Future Conference, em tradução, “Conferência Global do Futuro Anglicano”. Trata-se de uma série de conferências de bispos e líderes anglicanos conservadores que se reúnem para debater questões controversas e definir o futuro do Anglicanismo no mundo.
A primeira conferência foi realizada em Jerusalém, de 22 a 29 de junho de 2008 para abordar a crescente controvérsia das divisões na Comunhão Anglicana, o surgimento de secularismo, bem como preocupações com HIV/AIDS e a pobreza.
A GAFCON afirmou que o movimento cresceu porque um “falso evangelho” está sendo promovido dentro da Comunhão Anglicana, que nega a singularidade de Jesus Cristo e “promove uma variedade de preferências sexuais e comportamento imoral como um direito humano universal”.
Isso é comumente considerado um resultado da consagração de um bispo abertamente homossexual e não celibatário pela Igreja Episcopal e, mais geralmente, da percepção de que algumas partes da Comunhão Anglicana podem estar se afastando ensino verdadeiramente bíblico.
Resultados da GAFCON
A declaração do GAFCON anunciou que o GAFCON seria um “movimento no Espírito” contínuo ao invés de um evento único. Embora os responsáveis pela conferência não tenham decidido criar um cisma formal na Comunhão Anglicana, foram expressados planos para estabelecer novas estruturas eclesiásticas, particularmente dentro das províncias liberais da América do Norte, para atender aos anglicanos conservadores.
Do movimento surgiu a “Declaração de Jerusalém”, uma confissão doutrinária criada com o intuito de formar a base de uma nova “Fellowship of Confessing Anglicans” (FCA). A declaração defende as Sagradas Escrituras como contendo “todas as coisas necessárias para a salvação”, os primeiros quatro concílios ecumênicos e três credos como expressão da regra de fé da igreja, e os trinta e nove artigos como autorizados para os anglicanos hoje.
Além disso, o Livro de Oração Comum de 1662 é chamado de “um padrão verdadeiro e autorizado de adoração e oração” e o Ordinal Anglicano é reconhecido como um padrão oficial. Falando particularmente, tal declaração me deu ânimo para aderir ao anglicanismo, entendendo que os pontos citados estão alinhados às Santas Escrituras.
GAFCON é um ato de resistência?
Um cristão consciente não precisa mergulhar tão fundo para compreender que viver o verdadeiro Evangelho é um ato de resistência. Foi previsto que passaríamos por grandes provações, e isso inclui “as divisões que colocam obstáculos ao ensino que recebemos dos apóstolos” (RM 16.17).
Eu enxergo a GAFCON como um ato de resistência ao câncer do liberalismo. Não acredito que o movimento seja capaz de travar ou mesmo reduzir o estrago consequente da terrível crise que a Igreja vive nesses tempos. Mas acredito que ajuda a manter os olhos no padrão bíblico de fé (Atos 2.42).
Afinal, a bíblia é conservadora. Ela conserva aquilo que Deus permitiu que fosse registrado e passado as fiéis ao longo dos séculos. Inclusive, há o conselho de “que nos apartemos de todo o irmão que andar desordenadamente, e não segundo a tradição que foi recebida” (2TS 3:6).
A mesma Palavra também diz que “o Reino de Deus é tomado por esforço” (MT 11.12), e que a santidade exige domínio sobre as paixões (1 TS 4.4-5). É óbvio que aderir a comportamentos imorais é o caminho fácil, pois “larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela” (MT 7.13-14). O caminho certo continua sendo o difícil, o da preservação, o da porta estreita — e são poucos os que a encontram.
Que Cristo esteja com todos comprometidos à Conferência Global do Futuro Anglicano, bem como seus simpatizantes. Que sejamos resistentes ao “espírito dos tempos”, afinal, não queremos ficar viúvos tão rápido, tampouco correr risco de escorregar para onde Deus não está.