Na infância tive contato com a tia de minha madrinha, a Irmã Pascoalina. Uma cristã devota e dedicada, a senhora mais doce, amorosa e caridosa que eu já conheci. Eu tinha uma reverência natural por ela, e todas as vezes que a via, beijava-lhe a mão e pedia a benção. “Deus te abençoe, meu filho”, respondia a irmã com uma voz suave e cansada. Pascoalina talvez tenha sido santa.
Das minhas memórias de infância também trago a figura do Pastor Adilson, da congregação que minha família fez parte nos anos 1990. De tradição pentecostal, Adilson buscava ser um homem separado. Tinha o costume de jejuar, orar intensamente e ir aos montes para se consagrar. Por intermédio dele, tive meu primeiro contato com os carismas. Pastor Adilson foi um homem muito usado em processos cura e libertação, e era possível sentir um calor divino ao abraçá-lo. Adilson talvez tenha sido santo.
Palavras como “santificação”, “santificar” e “santidade” vem do vocábulo latino sanctus, que significa “santo”. Tal vocábulo geralmente traduz o hebraico qadash, “separado”, “consagrado”; o termo grego hagiasmos também entra em cena, trazendo “consagração” e “purificação”.
Qadash é utilizado no Antigo Testamento, aparecendo tanto como substantivo quanto adjetivo. Acredita-se que esse termo seja derivado de uma raiz hebraica para “separar” ou “cortar”. De forma geral, quando tais termos são aplicados é dada ênfase ao sentido de separação das práticas pecaminosas. Eles também apontam para a ideia de consagração e dedicação ao serviço de Deus.
Do começo ao fim, as Sagradas Escrituras revelam a importância da santidade. É o caso de Levítico 19:2, em que Deus diz a seu povo, por intermédio de Moisés: “Sejam santos porque eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo.”
No Novo Testamento, encontramos versículos como este de 1 Pedro 1:15: “Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem.”
Ser santo é crer, possuir proximidade especial com o Criador e se esforçar para ser semelhante a Ele. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados. E andai em amor, como também Cristo vos amou” (Efésios 5: 1,2).
O santo também traz o conceito de pureza e de ausência de pecado. Lembremos do que aconselha Paulo em 2 Coríntios, 7:1: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundície da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.”
Alguns santos são conhecidos como profetas, ou seja, mensageiros de Deus; outros, pela atuação do Espírito Santo, por ações de cura; alguns ainda, pelo amor prático, são agentes da caridade permanente. Tudo isso é resultado de uma vida consagrada a Deus.
Serafim de Sarov entendeu que “santo é um pecador que decidiu ser curado”. Já Gregório Palamas ensinou que “o santo é um intermediário entre Deus e a criação“. O escritor inglês G. K. Chesterton traz uma visão peculiar, dizendo que os santos são “antídoto”:
“Impérios caem, a indústria muda, as periferias não duram para sempre. O que irá permanecer? Eu te digo que os santos irão permanecer. O santo é um remédio por ser um antídoto. De fato, isso explica por que tantos deles tenham sido mártires. O santo é confundido com um veneno porque é um antídoto.
Nós geralmente o encontramos a restaurar a sanidade do mundo, a chamar atenção de forma enfática para aquilo que o mundo despreza – o que não é sempre a mesma coisa nas diferentes épocas. Porém, cada geração procura seu santo por instinto; e ele não é o que as pessoas querem, mas o que elas precisam.
Certamente esse é o sentido, muitas vezes mal interpretado, das palavras dirigidas aos primeiros santos: “Vós sois o sal da terra” (Mt 5,13).”
Afonso de Ligório estava convencido de que o caminho da santidade é possível para cada cristão. Ele explica que “é um grande erro dizer que Deus não quer que todos sejam santos. Deus quer que todos sejam santos e cada um no lugar onde foi chamado”. (cf. Prática do amor de Jesus Cristo)
Porfírio de Gaza explica que “É uma grande arte ter sucesso em ter sua alma santificada. Uma pessoa pode se tornar santa em qualquer lugar. Ele pode se tornar um santo na Praça Omonia*, se quiser. Em seu trabalho, seja ele qual for, você pode se tornar um santo por meio da mansidão, da paciência e do amor. Faça um novo começo todos os dias, com uma nova resolução, com entusiasmo e amor, oração e silêncio, e sem ansiedade – de forma que você tenha uma dor no peito.”
Que possamos desejar e buscar ser santos, “Porque Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1 Tessalonicenses 4:7)