Você consegue visualizar todo o quadro?
Eu sei que falar de religião em pleno século XXI é um bagulho muito esquisito.
A pós-modernidade tem como background muitas estampas atraentes — o niilismo, o hedonismo, o individualismo — e tudo isso parece deixar a religião, esse negócio antigo, antiquado, no chinelo.
Mas pensemos um cadinho…
Há mais rituais e crenças nesse cotidiano moderninho do que se possa perceber.
os templos são trocados por shoppings…
as reuniões de oração substituídas por hábitos good vibes…
o aconselhamento espiritual é trocado por sessões de terapia…
a comunhão entre irmãos em torno do pão e do vinho é trocada por uma rodada de cervejas com petiscos…
os rituais de confissão se tornam desabafos nas redes sociais…
Nesse cenário ilusório que a publicidade constantemente promove, quem não cultua a Deus acaba cultuando a própria imagem, a profissão, o dinheiro, o sexo, os pets, a comida.
Sabemos que parte da religião se torna um lance meio diabólico mesmo, quando praticado de modo distorcido por gente terrível. E há mais gente terrível camuflada nas rodas de crenças do que você e eu gostaríamos.
Sabemos que isso causa um estrago danado na cabecinha de alguns, que depois não suportam ouvir qualquer palavra sobre fé.
Estamos cientes desses B.O’s.
E tem aquele lance de que religião é usada para manipular as massas, né? Mas não percamos de vista o fato de quem foge da religião sofre manipulação da mídia, dos algoritmos, do coach, do político.
E o que dizer da ideologia, que substitui os símbolos religiosos por símbolos políticos, e que promove agendas tão ou mais moralistas que a própria religião?
Tudo muito sacro, litúrgico, dogmático — e não ouse você questionar.
O pançudo do Chesterton escreveu que o mundo moderno está repleto de homens que creem em dogmas de modo tão inflexível que nem mesmo sabem que são dogmas.
Depois disse que, na verdade, só existem dois tipos de pessoas: os que aceitam dogmas e sabem disso; e os que aceitam dogmas e não sabem disso.
É bom pensar nisso.
E é bom analisar se aquela liberdade que você diz tanto ter por estar longe da religião não seja apenas escravidão prazerosa.
Porque se há sempre aquela sensação de vazio, se há sempre a busca por um friozinho na barriga novo, se não há qualquer resquício de arrependimento na maldade que você pratica, tá faltando aquilo que a Religião sabiamente pode oferecer.
Afinal, mesmo não sendo a imagem completa, a Religião, a boa Religião, aquela que tem Cristo no centro, é a ferramenta que permite visualizar todo o quadro: o vazio no peito é do tamanho de Deus.