Conheça o Calendário Litúrgico
Veja este vídeo para entender o que é o Calendário Litúrgico:
Abaixo um resumo para lhe ajudar a acompanhar:
- O que é? Origem.
- Ano Cristão (Calendário Litúrgico): organização do calendário anual através da vida de Jesus e de importantes celebrações na história da Igreja.
- Na Bíblia e na vida da Igreja, existem tantas coisas que nós devemos celebrar e lembrar, que é impossível celebrar todas essas coisas de maneira significativa numa domingo ou num culto. Então o ano cristão nos proporciona uma maneira de reviver todos os mistérios da fé cristã em comunidade, fortalecendo uns aos outros.
- Origem: na Bíblia, AT, calendário litúrgico. No primeiro livro da bíblia, Deus ordena que os luminares celestes (sol, lua) fossem usados para regular nossos tempos e estações. Isso não inclui apenas o dia e a noite, mas os tempos mais amplos do calendário, estações, solstícios e equinócios. Existe um projeto divino por trás dos ciclos do mundo.
- Pentateuco (primeiros livros), festas: Páscoa, Semanas (Shavuot), Tabernáculos (Sukkot) e outras, inclusive festas que os judeus foram acrescentando em outros momentos da história, como Purim (Ester) e Chanucá.
- Jesus celebrou essas festas e os primeiros cristãos, que eram de origem judaica, continuaram essas celebrações. Mesmo o apóstolo Paulo tomava as festas judaicas, como Páscoa, Pentecostes e Dia da Expiação, como referências, como vemos em suas cartas e nos Atos dos Apóstolos. E não só isso, mas São Paulo escreve: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade.” 1 Coríntios 5:7,8
- Mas conforme a religião cristã se expandiu para além das fronteiras judaicas, as coisas tinham que mudar.
- Na realidade, as mudanças começaram com o pensamento que o próprio Cristo trouxe. Cristo estava trazendo um vinho novo, um novo conteúdo espiritual, que não era limitado ao vinho velho da antiga aliança. Por isso, esse vinho novo precisava de odres novos.
- Mas vinho é vinho, seja velho ou novo. Então os textos bíblicos que falavam dessas festas, mesmo que não fossem mais guardados de maneira judaizante, continuavam sendo referência, porque toda a Bíblia é a Palavra de Deus e continua nos instruindo em justiça. Então embora não guardemos as festas do mesmo jeito que no Antigo Testamento, aquilo que Deus fez continua sendo importante. Se Deus quis que houvesse um calendário litúrgico no AT, isso não era arbitrariedade, Deus tinha um benefício a ser trazido, e nós podemos continuar nos beneficiando.
- Então embora os cristãos percebessem a necessidade de um calendário, as festas cristãs se desenvolveram ao longo dos séculos, incorporando os eventos da vida de Cristo e os aniversários dos mártires. Aquilo que era celebrado nas antigas festas continua sendo celebrado, mas mas nãos como mero símbolo e sim como realidade. Assim, não temos mais um cordeiro meramente simbólico (do AT), mas o corpo e sangue do próprio Cristo que são celebrados.
- Então através do consenso entre os cristãos e da autoridade da Igreja, certas festas foram sendo estabelecidas e isso permitiu que os cristãos ao longo dos séculos pudessem celebrar as mesmas coisas juntos.
2. Importância.
- (1) Então o calendário litúrgico promove unidade, é aqui que começa a sua importância. É uma maneira de organizar a igreja que não depende dos desejos do pastor local.
- (2) Dá à igreja uma maneira de organizar o tempo diferente do calendário secular. Alguns cristãos acreditam que a Igreja deve ser diferente do mundo, Bem, essa é uma maneira, ter seu próprio calendário.
- (3) Reviver a narrativa cristã, de maneira bela.
- (4) Conectar com a história cristã ao longo dos séculos, guardando essa tradição, entendendo que essa foi a maneira como historicamente o Espírito Santo nos orientou.
- (5) Ajuda a navegar melhor nos temas bíblicos, não só aqueles que são mais populares ou estão na moda. Isso nos ajuda a fugir das nossas preferências. Como pastor, eu diria que isso é um desafio e tanto, mas vale a pena.
- (6) Promove senso de expectativa, conforme olhamos para o próximo passo do calendário.
- (7) Ajuda a organizar a pregação (não apenas no contexto da homilia da celebração, mas também aquilo que é ensinado num dado período em outros momentos da igreja).
- (8) Ajuda a unir a vida devocional individual à vida da igreja. Sem um calendário, geralmente a vida devocional individual vai estar desconectada daquilo que a igreja está vivendo e experimentando.
- (9) Permite aprofundar certos temas, por serem repetidos ano após ano. Eu posso dizer que a cada ano a experiência da quaresma é diferente. Se você celebra todo domingo do mesmo jeito, aquilo perde a força. Mas quando os temas se alternam de certo modo, eles reganham força.
- (10) Equilíbrio correto entre preparação e celebração. Longos tempos de preparação são bíblicos, mas nós tendemos a não valorizar a preparação hoje. Somos muito imediatistas. O ano cristão nos força a esperar.
- Pessoas que começam a conhecer o Calendário Litúrgico caem numa armadilha, que é tratar o calendário como uma ferramenta pedagógica (como uma questão de educação ou ensino). Isso acaba limitando o propósito do calendário. Eu diria que o propósito do calendário litúrgico não é pedagógico, o propósito é dar a igreja uma experiência da sua fé, vivenciar a fé de certa maneira, celebrar de certo modo, apresentar a Deus certo tipo de culto que une a igreja.
3. Estrutura.
- Datas; leituras bíblicas (de acordo com o tema daquele dia, daquela semana ou daquele tempo litúrgico); orações (de acordo com cada semana e de acordo com as festividades que caírem naquele dia da semana); cores (paramentos do altar, Santa Mesa; também estolas; quatro cores principais: roxo, branco, vermelho, verde, às vezes também preto).
- Roxo: penitencial, preparação, cor real; Branco/Dourado: iluminação, divindade; Vermelho: sangue, martírio, Espírito Santo (autoridade); Preto: fúnebre.
- Geralmente festividades ligada a mártires têm a cor vermelha, ligadas a anjos a cor branca.
- Vou apresentar a estrutura da Igreja Anglicana, mas não vou focar nas especificidades. Vou colocar aquilo que é principal, e a maioria dos cristãos no ocidente pode se identificar com isso.
- Dois ciclos principais: Natal e Páscoa [cor branca]. Natal data fixa (25 de dezembro, mas começa na véspera, vai até 5 de janeiro, 12 dias), Páscoa dia móvel (para sempre cair no domingo, o dia da ressurreição, dura 49 dias; até o Pentecostes).
- CICLO DO NATAL (abre o ano): ADVENTO (roxo) – 4 domingos antes do Natal, Preparação
- TEMPO DO NATAL – Natividade do Senhor (branco)
- 1 de Janeiro (oitavo dia do Natal): Circuncisão de Cristo
- CONCLUSÃO: 6 de Janeiro (Epifania do Senhor) – então chega ao fim o branco, e iniciamos o Tempo Comum com o Verde
- Os dois tempos comuns do ano são dois períodos que separam os ciclos, um período maior entre o Ciclo do Natal e o da Páscoa, e outro período menor, entre o da Páscoa e do Natal [cor verde]
- CICLO DA PÁSCOA: QUARESMA (roxo), 40 dias antes da Páscoa, 40 ou 46 dependendo de como você calcular; enfatizamos oração, jejum e esmola (o jejum é o mais famoso). [A sabedoria de viver um tempo de tristeza.] Referência principal para os 40 dias é o jejum de Cristo no deserto, mas há outros personagens como Moisés, Elias e a própria nação de Israel no deserto.
- DOMINGO DE RAMOS (domingo anterior à Páscoa) – entrada de Cristo em Jerusalém (vermelho)
- QUINTA-FEIRA SANTA: Instituição da Santa Comunhão e Lava-Pés, Branco
- SEXTA-FEIRA SANTA: A Paixão do Senhor. [preto ou vermelho]
- SÁBADO SANTO: Preto ou vermelho, mas um costume que nós temos é não usar nenhum paramento.
- DOMINGO DE PÁSCOA – DOMINGO DA RESSURREIÇÃO – branco/dourado.
- Domingos seguintes – todos de páscoa, até o pentecostes (50 dias depois)
- 40 dias depois, quinta-feira, Ascensão do Senhor
- PENTECOSTES (também começa na véspera) – vermelho
- Domingo seguinte: SANTÍSSIMA TRINDADE – Branco
Tempo comum. Se o Advento e a Quaresma são expectativa, os tempos comuns são a expectativa da expectativa.
Existem festividades do tempo comum, geralmente ligadas aos mártires. Exemplos:
2 de Fevereiro – Apresentação de Cristo no Templo (4o dias do Natal)
25 de Março – Anunciação de Nosso Senhor à Bendita Virgem Maria
31 de Maio – Visitação da Virgem Maria a Santa Isabel
24 de Junho – Natividade de São João Batista (6 meses antes do Natal)
6 de Agosto – Transfiguração do Senhor
8 de Setembro – Bem-Aventurada Virgem Maria
1 de Novembro – Todos os Santos
Existem outras datas ligadas aos santos apóstolos, aos mártires e a cristãos de todas as épocas. A Reforma da Igreja da Inglaterra diminuiu o número de festividades para focar nessas festas. Depois de Jesus, Maria é aquela que tem mais festividades no calendário, e isso mostra a importância da mãe de Deus.
- Perguntas.
Já respondi várias perguntas, mas quero sinalizar quatro:
(1.) Como começar a observar? Uma maneira é usando orações e leituras bíblicas organizadas para isso, como faz o livro de Oração Comum, e estudando os temas que cada tempo propõe, e revisando sua vida de acordo com esses temas.
(2.) Pode começar em qualquer momento do ano? Sim! Comece onde você está.
(3.) É necessário um concílio para mudar o calendário? Seria preciso para mudar o principal. Para as festividades menores, não seria.
(4.) É possível seguir o calendário litúrgico e atender às necessidades momentâneas? É uma pergunta sobre flexibilidade. A resposta é: Sim! Por exemplo, durante a pandemia, eu procurei adaptar muita coisa para a realidade que nós vivemos. Enfatizamos mais a doação do que o jejum na quaresma. Mas é importante entender: além das necessidades momentâneas, existem as necessidades permanentes. Então o calendário atende as necessidades permanentes e dá espaço suficiente para atender as momentâneas. Eu posso dizer, pregando a partir das leituras pré-selecionadas do lecionário, que não é difícil adaptar aqueles temas que estão ali para os problemas contemporâneos. O calendário não apenas atende às nossas necessidades, mas reajusta as nossas necessidades. Ele ajuda a perceber novas necessidades e deixar de lado algumas necessidades (que parecem urgentes) por um tempo. Uma coisa que ele realmente desenvolve é o senso de que nem tudo é urgente. Mais fundo do que isso: o sermão não é a solução para todos os problemas e necessidades da igreja. Não é tanto como um shopping onde você vem comprar o que precisa. É muito mais como um exército que se prepara para uma mesma batalha.
Rev. Gyordano M. Brasilino